A vida no feto e o sagrado
Então disse Maria: “Minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, pois atentou para a humildade da sua serva. De agora em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, pois o Poderoso Deus fez grandes coisas em meu favor; Santo é o seu nome.”
(Evangelho de Jesus, segundo Lucas, 1:46 a 49)
Nossa Divina Mãe, Maria de Nazaré, é realmente um exemplo para todos nós, homens e mulheres, jovens e crianças, além dos espíritos de luz que dedicam-se à sua falange de socorro espiritual.
Como exemplo universal de devoção e humildade entrega-se de corpo e alma à Ordem Divina. Não pensou duas vezes em aceitar a sua missão de ser a Mãe de Jesus, nosso Divino Mestre. Se hoje as mulheres lutam pelo reconhecimento da sua condição natural de igualdade perante Deus, imaginem como era naquela época. A coragem e determinação que ela, jovem, precisou ter para aceitar essa responsabilidade.
Por isso, nada mais justo do que falar dela e do exemplo que ela nos legou.
Os dois pólos da Alma
Não tenho a experiência para falar sobre a questão física da gravidez e do parto. Porém, existe uma associação universal quanto à gravidez e ao processo do parto com punição e sofrimento. Sempre dizemos que algo que foi trabalhoso e demorado, dentro de um sentido desmoralizante, associamos com o “parto”. Esquecendo-se que esse processo é o responsável pela vida. O que é, em princípio, uma benção divina.
Agora, essa associação foi influenciada e provém de uma interpretação quanto à consequência imputada por Deus quando Adão e Eva infringem a ordem de não comer do fruto da Árvore do Bem e do Mal.
14. Então o Senhor Deus declarou à serpente: “Uma vez que você fez isso, maldita é você entre todos os rebanhos domésticos e entre todos os animais selvagens! Sobre o seu ventre você rastejará, e pó comerá todos os dias da sua vida.
15. Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este ferirá a sua cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar”.
16. À mulher, ele declarou: “Multiplicarei grandemente o seu sofrimento na gravidez; com sofrimento você dará à luz filhos. Seu desejo será para o seu marido, e ele a dominará”.
17. E ao homem declarou: “Visto que você deu ouvidos à sua mulher e comeu do fruto da árvore da qual ordenei a você que não comesse, maldita é a terra por sua causa; com sofrimento você se alimentará dela todos os dias da sua vida.
18. Ela lhe dará espinhos e ervas daninhas, e você terá que alimentar-se das plantas do campo.
19. Com o suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte à terra, visto que dela foi tirado; porque você é pó, e ao pó voltará”.
20. Adão chamou à sua mulher de Eva, pois ela seria mãe de toda a humanidade.
(Gênesis 3:14-20)
Se fizermos uma leitura literal destes versículos, não há discussão quanto à interpretação corrente do sofrimento imputado. Numa interpretação alegórica, podemos buscar entender que a expressão escrita carrega um outro significado além do literal. Discorrendo sobre a segunda e aprofundando a sua interpretação em Espírito e Verdade à luz do Novo Mandamento de Jesus — “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (João, 13:34 e 35) — chegamos à duas conclusões: 1) Universal e 2) Amor.
No sentido Universal caminhamos para a compreensão de que teoricamente Gênesis narra a origem de tudo e, portanto, sua história representa o Todo. Dentro disso, entendemos que a representação de Adão (Animus), Eva (Anima) e a serpente (Kundalini) está nas divisões polares do Espírito em reencarnação. Portanto, a relação de Eva com a serpente está associada ao despertar da consciência proveniente da sua proximidade com Deus, já que Eva representa o lado emocional do ser. Esse despertar quando ocorrido pela Emoção, atinge diretamente à Razão, ou seja o lado racional, que é representado por Adão. Quando então ocorre esse despertar da consciência, o Espírito entra no processo natural de reencarnação. É dentro dessa realidade que está o sentido da queda do espírito.
“Como assim?” Você pode perguntar.
O que acontece é que a alma no seu processo de progressão espiritual vai chegar a um ponto onde o seu desenvolvimento passa a acontecer com a influência da sua vontade, ou seja, quando o livre-arbítrio se manifesta conjuntamente com a nossa capacidade de escolher. No momento em que nos é entregue essa capacidade a alma tem a opção de conhecer e entender a complexidade da Moral através do Amor ou mesmo da Dor. Assim, quando a segunda opção é escolhida caímos (reencarnamos) na Terra.
No sentido do Amor, compreendemos que a vida — por mais que tenha a manifestação da Dor em seus aspectos físicos, emocionais e espirituais — exalta a Misericórdia de Deus e, portanto, transforma a Dor em Amor. Esse é o ensinamento primordial do que vemos em Gênesis. A realização de que ambos são princípios geracionais. Subjetivamente e literalmente a vida surge por meio do Amor e em seu processo natural de crescimento a Dor se faz presente, mas é exatamente através dela que nos voltamos para a grandeza do Amor. Por exemplo, a criação divina surge pelo Amor, mas é inquestionável que a Dor se fará presente na criação para benefício do seu próprio desenvolvimento até que alcance a realização do Amor. Nesse sentido, ambos os pólos do Espírito, quando unidos, atingem a sua capacidade criativa.
Mulher, o ser portador da Vida
A criação se manifesta na união dos dois pólos espirituais, o masculino e o feminino. A Razão irá naturalmente trabalhar pela preservação da vida, enquanto que a Emoção irá naturalmente trabalhar pela manutenção da vida (Gênesis, 1:28).
Quando dois espíritos reencarnados (homem e mulher) se unem para gerar a vida material e espiritual, ambos atingem uma conexão com Deus. O homem passa a assumir o peso mental de buscar meios para a preservação da vida e assim dedicar-se àquilo que logicamente promoverá esse objetivo. Porém, a mulher, em sua humildade corajosa, assume o peso emocional de manter a vida e protegê-la. Nesse momento, a mulher está muito mais próxima de entender e se conectar a Deus, porque ela assume o jugo emocional e espiritual de intrinsicamente conhecer a complexidade da vida. Onde o Amor abre portas para a Dor, assim como a Dor abre portas para o Amor.
A Sacralidade da Vida
Essa é uma realidade tão presente em nossa Mente e Espírito que naturalmente agimos em prol da sua preservação e manutenção. Quando isso não acontece, entendemos e observamos que há uma problemática no equilíbrio mental e espiritual do ser.
É dentro dessa compreensão, que não faz nenhum sentido defender o aborto. Eliminar a vida de um ser humano com seu espírito eterno é agir completamente contra o sentido natural da vida biológica e espiritual. É tão estranho mantermos em pauta essa discussão sobre o valor da vida de um ser que está em formação, quando na verdade as problemáticas são paralelas à gravidez em si. A discussão sobre legalizar o aborto passa a ser uma forma de distrair as mentes para os reais problemas que circundam os grupos que serão afetados por essa decisão. Quando o foco deixa de ser sobre a realidade física da saúde da mulher e passa a ser o interesse da defesa filosófica de uma livre escolha sem a real capacidade espiritual, racional e emocional de realizá-la, promovemos acima de tudo a Dor sem dar nenhuma oportunidade ao Amor.
Ora grupos se levantam para defender a vida e não a morte promovida pelo aborto, ora pessoas se unem para defender a sua realização de forma legalizada. Todos querem discutir os efeitos, mas ninguém quer discutir as causas.
Por que não abrirmos a discussão para as necessárias mudanças a serem realizadas na sociedade e que vão direto à causa usada para justificar essa legalização? Por exemplo, criar leis efetivas garantindo uma educação eficaz aliada à Espiritualidade Ecumênica e que auxilia os jovens a controlar os impulsos naturais da puberdade, focando suas mentes ao que é Eterno e Divino; um auxílio maior às famílias para que perceberem os sinais de abuso contra as mulheres e a aceitem a necessária realidade de buscar resolver a situação e proteger a vítima, afastando o(s) perpetrador(es) do abuso; e promovendo programas sociais e leis humanitárias que defendam a vida, benefíciem e a garantam os direitos de cuidado às grávidas e ao nascituro. Isso deve ser mantido, reforçado e melhorado, porque, afinal ela só está simplesmente garantindo a existência e manifestação da humanidade. Mesmo sendo o óbvio, ainda existe a necessidade de traze-lo.
O Ciclo Espiritual do Feminino
Voltamos ao nosso primeiro tópico quanto à Nossa Santa Mãe, Maria, que é o ápice da Realidade Feminina. Ela é o exemplo da busca de todas as mulheres para manifestar seu valor e da busca de todos os homens para harmonizar o pólo Masculino ao pólo Feminino.
Podemos então argumentar que nenhuma sociedade suportará as batalhas espirituais entre a expansão da ignorância e a iluminação sem a integração de Anima e Animus para que o Espírito possa se manifestar como uma Alma Iluminada na busca de um significado final que vem da Moralidade Divina. Eva e Maria representam diferentes características cíclicas do Espírito Feminino.
Maria de Nazaré é a mulher sublimada em Deus e que se torna a Mãe Universal. Ao aceitar o pedido de Deus para manifestar a grandeza da Vida, Ela deu à luz a encarnação da Sua Palavra, Jesus. Cuidou Dele enquanto criança e apoio Seu crescimento em Deus e a exposição de Sua Sabedoria. Dessa forma, promoveu o movimento necessário da Vida em direção a uma Evolução Espiritual, chamando-nos, por meio de Cristo, a não sermos meros espectadores dela.
Ainda, é exemplo de coragem e resiliência ao fica ao lado de Seu Filho Amado no momento decisivo da sublimação da Sabedoria de Deus. Tendo Fé e confiando que a Vida proveniente de Deus se manifestará em si mesma como se manifestou por meio Dela.
Nossa Divina Mãe, Maria, é o Espírito Feminino que desperta o Espírito Masculino para um Caminho Espiritual de parceria em direção à Divindade e dá à luz uma Moralidade Divina. Este Seu simbolismo nos mostra a realidade do caminho para alcançar a estatura da Cristandade.
“Coração de mãe não foge da Dor do Filho”
Irmão Paiva resume belamente essa compreensão na sua mensagem “Coração de mãe não foge da Dor do Filho”, que podemos encontrar em seu livro Jesus, a Dor e a Origem de Sua Autoridade — O Poder do Cristo em Nós (2014) ou ouvi-la no seu canal:
Dessa forma, concluímos que somente com a real valorização da Mulher e de Seu Espírito Eterno, promovida pelo Amor Divino, é que poderemos garantir a construção de um futuro melhor e “uma humanidade mais feliz” com um Novo Céu e uma Nova Terra e a descida da Nova Jerusalém à este mundo (Apocalipse de Jesus, segundo João, 21:1 a 27).